domingo, 25 de abril de 2010

E...


Aqui, agora, olho para mim e o que vejo? E o que sinto? E o que sou? E o que fui? E o que deixei de ser?
E o que deixei de ser, para me tornar esse outro eu, desconhecido, apavorante. Sim! Porque tenho medo desse eu. Tenho medo de eu!
Onde foi parar a alegria, o prazer, o riso?
E ao invés de, a dor, extrema, aguda. A solidão dentro do eu, dentro de eu.
Inaptidão. Inércia.Insônia.Vontade de ser eu.De descobrir o eu.De ser vento e sumir na tempestade.De ser viva!
E é um nó na garganta, um não respirar, um não viver. É o eu apodrecido que caiu da árvore.É a árvore que deixou o eu apodrecer e cair...cair...
É o silêncio que corta meus gritos contidos na escuridão do eu. É a ignorância de ser eu.
Eu ignorante,ignorada. Enojada.Cansada. Abatida. É o eu abatido, no chão, apodrecido.Apodreço só. Porque quis. Porque quero. Onde está o riso de menino que não rompe o silêncio? Silêncio dentro.Psiu!Deixa adormecido,"e o anel que tu me deste, era vidro e se quebrou."

terça-feira, 30 de março de 2010

"COTA ZERO". STOP!


Estou sentada , quieta, com pensamentos que atormentam, atormentam...
Não sei onde isso vai dar, mas espero conseguir visualizar uma luz,lá no final, ou lá no começo...onde é o quê?
Hoje estou triste, amargurada, hoje não estou de bem com a vida, que é tão doída, que me leva ao chão e nem sei como, mais uma vez, me levantar.
Quero amor, sossego, paz, sossego mental, não quero mais fazer brainstorm, é doído demais Clarice.

A vida parou ou foi o automóvel?(Drummond)


Fruteira vazia.... Ha ha ha...
Para que serve? Vazia assim? Onde está a utilidade? E pra que serve? Pra ficar vazia. Imóvel. Fazendo-me lembrar do que já foi.
Inutilidades, escrevo eu... pensamentos que vagueiam por meu coração sombrio. Fechado. Amargurado. Cansado.
Pra que serve uma fruteira vazia? Para colocar dentro meus pensamentos, meu passado, minha infância, minha mãe, minha felicidade.
Catarse! É preciso de...
Sono, alegria, sol, luz. Vento e tempestade. Eis o que sou agora. Tormenta.
Ah, como é tudo tão ridículo e tão fácil.
E tão certinho e tão metódico e tão autoritário e nojento e vergonhoso e sufocante e estarrecedor. Afinal, tudo isso é uma fruteira vazia a me incomodar. Em cima da mesa. Soberana, me lembrando do que eu fui, do que eu perdi, do elo que se rompeu.
Da vida que passa... passa... passa...

terça-feira, 2 de março de 2010

Saudades.


LISPECTOR...
Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,
quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,
eu sinto saudades...

Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,
de pessoas com quem não mais falei ou cruzei...

Sinto saudades da minha infância,
do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro,
do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser...

Sinto saudades do presente,
que não aproveitei de todo,
lembrando do passado
e apostando no futuro...

Sinto saudades do futuro,
que se idealizado,
provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...

Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!
De quem disse que viria
e nem apareceu;
de quem apareceu correndo,
sem me conhecer direito,
de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.

Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito!

Daqueles que não tiveram
como me dizer adeus;
de gente que passou na calçada contrária da minha vida
e que só enxerguei de vislumbre!

Sinto saudades de coisas que tive
e de outras que não tive
mas quis muito ter!

Sinto saudades de coisas
que nem sei se existiram.

Sinto saudades de coisas sérias,
de coisas hilariantes,
de casos, de experiências...

Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia
e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!

Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!

Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,

Sinto saudades das coisas que vivi
e das que deixei passar,
sem curtir na totalidade.

Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que...
não sei onde...
para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi...

Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades
Em japonês, em russo,
em italiano, em inglês...
mas que minha saudade,
por eu ter nascido no Brasil,
só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.

Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria,
espontaneamente quando
estamos desesperados...
para contar dinheiro... fazer amor...
declarar sentimentos fortes...
seja lá em que lugar do mundo estejamos.

Eu acredito que um simples
"I miss you"
ou seja lá
como possamos traduzir saudade em outra língua,
nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.

Talvez não exprima corretamente
a imensa falta
que sentimos de coisas
ou pessoas queridas.

E é por isso que eu tenho mais saudades...
Porque encontrei uma palavra
para usar todas as vezes
em que sinto este aperto no peito,
meio nostálgico, meio gostoso,
mas que funciona melhor
do que um sinal vital
quando se quer falar de vida
e de sentimentos.

Ela é a prova inequívoca
de que somos sensíveis!
De que amamos muito
o que tivemos
e lamentamos as coisas boas
que perdemos ao longo da nossa existência...

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

PARA SEMPRE...


22 de março é aniversário da minha mãe.
Lygia. Belo nome. Sonoro nome. Nome que traz consigo toda uma família, toda uma vida repleta de constantes alegrias e um sorriso lindo e franco.
A vida é assim: você não espera que aconteça e de repente, ela te puxa o tapete, te puxa o chão e olha lá!! Caímos...
Nunca escrevi nada a respeito da “morte” de minha mãe. Ausência. Perda. Choro. Frio. Insônia. Desespero.
Saudade. Remorso. Culpa.
Lygia... Mulher que ao mundo veio somente para iluminá-lo com seu sorriso e sua inocência. Pureza que transgredia toda realidade à sua volta.
Mãe. Companheira. Amiga. Mulher de fé. Cristã.
Hoje, vendo retratos antigos, percebo minha mãe menina. Adolescente, cheia de vida, montando à cavalo e sentindo a brisa do vento a roçar-lhe a pele. Pele suave e rosada que tinha. “Quando criança, gostava de tomar sopa de inhame, por isso, minha pele é tão boa”.
Ah mãe. Quisera poder conter as lágrimas enquanto escrevo. Mas percebo que já as conti tempo demais. O tempo é precioso. Não nos descuidemos dele. Gostaria de não ter me descuidado tanto. Agora já perdi o momento. Os momentos. Tantos...
É. Mas você Lyginha, mora dentro do meu coração. Filha que te deu aborrecimentos. Sim, eu sei..
Mas antes de tudo acontecer, estávamos tão próximas, o que me alivia um pouco a culpa que carregarei eternamente por ter sido tão descuidada e cega aos teus carinhos, teu zelo de mãe e tuas preocupações.
Me dê um beijo minha mãe. Me dê um abraço.
Ai que me desespero de saudade...

Chegando...


Esplendor a chegada em minha terra, Faria Lemos, na primavera. Terra de muitas montanhas. Muitas histórias. Muitas lembranças...
Ipês floridos percorrem toda a estrada. Percorrem os pastos, a cidade.
Sinto que estou em casa. Mais uma vez, estou em casa. Entre meu filho, amigos, risos, parentes e a alegria de reencontrar as curvas do rio. Do velho São Mateus.
Será que ainda existem peixes? Lambaris...
Mas mesmo com todo esse esplendor é sempre amarga minha volta. Essa terra guarda meus temores, meus medos, meus afetos e meus desafetos. Os terei?
Terra que enterrou minha avó. Enterrou minha tia Thelma. Enterrou Lygia,minha mãe.
Mulheres fortes. Me ensinaram o que sei, o que sou. E agora, terra que guarda consigo os “tesouros” do meu tio Osório. Terra onde estão enterrados tantos tesouros. Tesouros amigos, tesouros parentes. Tesouros.
Despedidas... O mundo é feito de. E mesmo assim, é difícil acreditar que um dia, elas vão acontecer conosco. De repente, o tapete é puxado e pronto! Caímos.
Ficamos assim, sem teto e sem chão. Sem eira nem beira.
É. Acontece. E por mais doloroso que seja, temos que saber como nos comportar, como vivenciar a dor, a solidão, a ausência.
Como conviver? Como viver? Como deixar de viver?
"A vida não tem tamanho..."

Solidão



É inverno. Estou no meio de um deserto e o frio que sinto agora, além de percorrer todo o meu corpo, gela meu coração.
Sou espectadora e ao mesmo tempo vivencio a brutal desgraça que se abate sobre os seres humanos. Seres humanos??? pergunto eu...São massas que passam umas pelas outras, não se falam, não se tocam, não se sentem. São apenas máquinas, nada mais.
As ruas de asfalto são enormes e meu coração torna-se tão pequeno diante de tanto embrutecimento, concreto/aço.
Estou parada e recebo o vento frio na cara como se fosse uma rajada de metralhadora. Mas eu não caio. Nem ao menos me movo, sinto a água da chuva a escorrer sobre meu corpo e assim me deixo ficar. Molhada.Ensopada.O frio não existe mais, eu o venci. O que existe agora é só um corpo inundado pela chuva e pelas lágrimas que banham minha alma nessa imensa solidão de carros que buzinam sem cessar. E eu continuo ali. Exposta a crueldade daqueles que se julgam protegidos por seus guarda-chuvas. Eles me olham. Será ela uma louca??? E por que não???...O que é ser considerada louca, por pessoas que se julgam tão normais , controladas e controladoras???
O corpo cai, pois, às vezes, não suporta mais o peso e a angústia do isolamento, da solidão e da condição de ser um bicho humano que luta desesperadamente consigo mesmo. Difícil é, mas não impossível, vencer esse rio de asfalto, esses monstros enormes que se erguem vindo diretamente ao meu encontro. Procuro descontroladamente correr, reagir, mas não consigo, pois o corpo está imóvel, como se grudado ao chão e se mistura agora com o que restou da chuva ou será que se mistura com o que restou de si próprio???...

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Título?


Nesse circo que é o mundo, sou uma espectadora de mim mesma. Assustada. Acuada. Irritada. Enojada. Maltratada. Chorona. Ridiculamente chorona.
Espectadora. Vejo tudo através de grossas lentes embaçadas, esfumaçadas. E a dor é tão absurdamente imensa, intensa, que custa-me crer que o alvo sou eu.
Fico estática e olho ao redor. Toco. Sinto. Pré-sinto. Tudo tão silencioso dentro de mim. Náusea.Choro. Tortura. Violência. Desespero. Tontura. Auto-piedade. Absolvição? Socorro!Disparo o tiro:BUMM...e meu coração se espalha pela sala em mil pedaços que serei obrigada a recolher.Recolocar no lugar. Coração em pedaços não se recompõe jamais. No máximo, ele vai bater dentro do peito, que é essa sua função. Bater sem nenhuma vontade de amar. Somente bater...bater...bater...
Felicidade. Meu corpo é inundado de pregos que me maltratam sem parar. Desejo. Alguém tem um lugar que não seja o meu corpo para colocar esse maldito desejo? Maldito. Mascarado. Inútil. Indesejado. Todos os palavrões possíveis para designar o violento e inescrupuloso desejo.
"A arte de ser feliz." Existe alguma arte que possa nos dizer como podemos ser? Nos controlar? Nos descontrolar? Viver é assim tão ruim? Tão pedante? Tão insensatamente ridículo?Tão insensatamente prazeroso? Dualismo? Talvez...
O amor desapareceu.
A vizinha me observa do terraço de sua casa. Viver é assim."Observo você querida. Não tenho nada melhor. Minha vida também é uma merda!Ou você imagina que o privilégio é só seu?"
Estou imaginando ser o centro do Universo. E sou. Meu Universo. Difícil acesso. Sem senhas. Sem mapas. Sem localização. Encontre-o.
Tédio. Tédio. Tédio. Poderia ficar repetindo sem parar. Tem ótima sonoridade.Assim penso eu. O que diriam os gramáticos?Danem-se.
Agora eu observo a vizinha. Será que existe esperança querida?Você também está triste.Talvez pensando no filho que morreu. Ou somente olhando o ir e vir dos carros, das pessoas, da sua vida. Assim como eu. A vida passa. Sim. Ela passa. Ela nos atravessa. Ela nos ultrapassa. Nos dilacera a alma.Vida. Viver. Con-viver. Onde posso colocar o desejo? Alguém já encontrou uma solução? Desejo. Diversão. Prazer. Arte. Cultura. Risada. Música.Sol. Água. Claridade.
Como? O céu está negro? Coração negro. Coração lento...batimentos ruins.
Não está bom aqui dentro. O que fazer? Aposto que ninguém encontrou uma solução, um lugar para colocar meu desejo.(não sendo meu corpo...)
Continuemos tentando...
"O que não tem remédio, remediado está."Ditado inútil. Serve para que as pessoas aceitem pacificamente seu destino. Cordeiros. Mas eu...esse assunto me enjoa.
Mudemos para outro.
Está ventando. Muito. Quero me juntar ao vento e me espalhar em mil.Pelas cidades. Pelos campos. Pelas casas. Quartos. Banheiros. Bares. Como será ser vento? Espalhar. Espalhar. Espalhar. Esparramar. Desarrumar. Desnortear. Remexer. Desorganizar. E ,através dele, quem sabe?Encontraria a liberdade...
Fenômenos naturais. Isso! Encontrei. Vocês não ajudaram. EU encontrei.
Sairei ao encontro do vento. Ele deslizará por meu corpo. Desalinhará meus cabelos. Minha roupa. Minha maquiagem. Me entrego toda. Assim me deixo ficar...
Entregue...
Vento. Calor. Sol. Lua. Frio. Chuva. Montanhas. Verde. Estrelas...
Passado...
Saudade...
Solidão
É inverno. Estou no meio de um deserto e o frio que sinto agora,